Cultura virou buzzword. Toda empresa quer medir cultura, transformar cultura, escalar cultura. Mas antes de sair aplicando pesquisas ou contratando consultorias, uma pergunta incômoda precisa ser feita:
Você está medindo cultura mesmo ou só artefatos visíveis e crenças de superfície?
Segundo pesquisadores como Migueles, a cultura organizacional não pode ser reduzida a variáveis de questionário. Ela é um fenômeno simbólico, contraditório, informal, algo mais próximo de um ecossistema do que de uma métrica.
Tratar cultura como “algo que se mede e muda” é ignorar sua complexidade.
Empresas que tentam fazer “radiografias culturais” com pesquisas rasas captam o óbvio e ignoram o invisível. Elas medem clima (opinião momentânea), não cultura (valores vividos ao longo do tempo).
Como evitar armadilhas?
✔️ Antes de medir, defina: qual é o objeto real da sua análise?
✔️ Diferencie clima, cultura e estrutura.
✔️ Use métodos mistos: entrevistas, observação participante, shadowing, além de surveys.
✔️ Pergunte aos ruídos, não só às vozes oficiais.
A cultura não grita, ela sussurra nos silêncios. Só é possível escutá-la com método, humildade e disposição para lidar com o ambíguo. Medir cultura sem entender isso é como medir o mar com um copo.
Marcela Zaidem – Cultura na prática